A escola brasileira
dos anos 80 e 90 foi regida por uma doutrina e até mesmo uma inclinação muito
favorável ao regime cubano. Alunos foram formados admirando as proezas e o
heroísmo de Fidel e sua tropa, que libertaram seu povo do chicote do capital na
consagrada batalha de Sierra Maestra, marco da revolução cubana.
É natural a simpatia dos professores
de história pelos feitos de Castro. A formação de esquerda num regime militar “linha
dura” como o nosso, foi fundamental para a formação de uma resistência e
esperança num amanhã democrático tão almejado por nossa sociedade.
Os alunos cresceram, o mundo mudou
muito rápido e o nosso olhar sobre política deixou de trabalhar apenas com a
visão majoritária dos vitoriosos, entendendo que é fundamental ver e ouvir a
posição das minorias na sua plenitude para tentar montar o quebra-cabeça da
história e da vida.
A chegada da blogueira Yoani Sánchez
ao Brasil para uma rodada de palestras impôs a mim algumas reflexões sobre a
formação escolar que recebi.
Externo, sem constrangimento, a
minha opinião. Acho-a uma chata! A baixíssima repercussão sobre o cerceamento à
liberdade de expressão ocorrida ontem em Salvador me preocupou. Que práticas
como essa sejam comuns na ilha de Fidel, vá lá, não é nenhuma novidade. Mas o impedimento à blogueira de falar –
simplesmente falar – as impressões que tem do momento político de seu país, sob
a acusação de traição à pátria, mostra o flerte perigoso entre a militância
partidária a serviço do poder e a intolerância com o contraditório.
Qual a razão para calá-la? Há algo
de novo na tragédia em que Cuba se transformou que ainda não sabemos? O que
pode ser considerado uma traição à pátria?
Me questiono:
Pode ser bom um regime que mantém há
seis décadas, independente da vontade popular, o mesmo mandatário sob um falso
manto revolucionário de igualdade?
Pode ser bom um regime que impede a
livre manifestação do pensamento num país que possui um único jornal?
Pode ser bom um regime que limita o
ir e vir dos cidadãos que desejam respirar novos ares em razão do seu
descontentamento e discordância?
Pode ser bom um lugar onde não há
riqueza material (é o que dizem), contudo a experiência da pobreza é
socializada e comunitária, a ponto de faltar papel higiênico para as necessidades
mais elementares?
Será que Fidel e Raul Castro estão
irmanados no mesmo espírito de pobreza e miserabilidade que impuseram aos seus
irmãos cubanos?
A reação absurda de ontem me
conduziu a essa reflexão muito particular.
Há pessoas que admiram esse regime,
mesmo após 60 anos de revolução com os resultados sociais que produziram para o
povo cubano. Respeito a opinião dessas pessoas e a defesa que fazem do regime,
é legítima. Mas persisto nos questionamentos de antes. A vida dos cubanos
melhorou ou piorou nos últimos 60 anos? Isso é o que importa para além dos
discursos ideológicos.
O direito à liberdade de expressão
no Brasil é a garantia de qualquer individuo se manifestar, buscar e receber
ideias sobre qualquer coisa, desde que saiba suportar e entender as consequências
próprias da democracia.
Temos
que defender o direito de expressão de todos, concordando ou não com a sua
forma ou conteúdo, ou voltaremos para o limbo das meias liberdades, do silêncio-surdo
que já vivemos um dia não muito distante. Um lugar sem eco para a voz da
liberdade de um Brasil que espero que tenha ficado para trás.